segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Blog Fechado para Balanço existencial...

Para que a escrita seja...

Autor: Cecília Meireles

Para que a escrita seja legível, é preciso exercitar a mão e conhecer todos os caracteres.
Mas para começar a dizer alguma coisa que valha a pena, é preciso conhecer todos os sentidos desses caracteres e ter experimentado em si próprio todos esses sentidos. E ter observado no mundo e no transmundo todos os resultados do que se experimentou.


Buenas Blogsfera...
Estamos fechados para balanço....Auto avaliação
Voltamos assim que a primavera nos trouxer bons ventos navegáveis.
São 120 posts...Tantas palavras pusemos p andar.
Abraços a todos e todas.

Affonso Romano de Sant´anna
PAREM DE JOGAR CADÁVERES NA MINHA PORTA

Parem de jogar cadáveres na minha porta.
Tenho que sair
- respirar.
Estou seguindo para os jardins de Allambra
a ouvir o que diz a água daquelas fontes
e acompanhar o desenho imperturbável dos zeliges.
Não me venham com jornais sangrentos sob os braços.
Parem de roubar meu gado, de invadir meu teto
e de semear pregos por onde passo.
Estou em Essauíra, na costa do Marrocos
olhando o mar. Ou em Minas
contemplando as montanhas ao redor de Diamantina.
Não me tragam o odorento lixo da estupidez urbana.
Parem de atirar em minha sombra
e abocanhar meu texto.
Estou tornando a Delfos
naquela manhã de neblinas
ouvindo o que me diz o oráculo em surdina.
Ainda agora embarquei para o Palácio Topkapi
frente ao Bósforo,
quando tentaram me esfaquear na esquina.
Jamais permitirei que quebrem as porcelanas
e roubem a gigantesca esmeralda na real vitrina.
Não me chamem para a reunião de condomínio.
Estou nos campos da Toscana
onde a gigante mão de Deus penteia os montes
e minha alma se sente pequenina.
Dei de mão comendas e insígnias
não tenho mais que na praça erguer protestos
e distribuir esmolas não é mais a minha sina.
Acabo de entrar no Pavilhão da Harmonia Preservada
e me liberto
- na Cidade Proibida na China.
Não adianta o clamor de burocráticos compromissos
nem vossa ira. Tenho oito anos
saí para nadar naquele açude atrás dos morros
e vou pescar a minha única e inesquecível traíra.
Parem de jogar cadáveres na minha porta
na minha mesa
na minha cama
dificultando
que alcance o corpo da mulher que amo.
Afastem de mim
o meu
o vosso cálice.
Impossível ficar no tempo que me coube
o tempo todo
preciso repousar num campo de tulipas
reaprendendo a ver o que era o mundo
antes de
como um Sísifo moderno
desesperado
julgar
- que o tinha que carregar.

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