sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Nada que o Mar não Cure/Amendoeira Fala!

Uma árvore surpreendente é a amendoeira, feita todinha trabalhada na aerodinâmica em forma de hélice de aglutinar ventos...
Climatiza qualquer ambiente árido, além de suas sementes serem nutritivas e comestíveis.
Seu óleo usado na cosmética em geral...Se quiser não ter estrias na gravidez, óleo de amêndoa nela...
Antes do assalto, em que minha câmera foi para o saco sob o julgo de uma faca, fizemos diversas imagens delas e Graças a Deus, 1 dia antes salvei tudo no note-book...Parece que alguma coisa me dizia.



Me deixo ficar sentada embaixo de uma amendoeira vendo a imensidão do mar, para curar qualquer dor na alma, ou mesmo espairecer, inspirar/expirar, filosofar, pensar, buscar soluções criativas....
Desde sempre tinha reparado e sentido isto, me deixando estar a sombra delas...
Agora que estamos no próximo semestre cursando gestão e planejamento ambiental, portanto subsídios para ir fundo no assunto...
Intencionamos projetar uma área climatizada por amendoeiras, com os devidos cálculos: Distância entre elas, posicionamento do corredor de vento litorâneo (no caso nosso lá nas Minas quase Bahia é o leste/nordeste)...





No nosso "rigor científico", abstraindo tudo, a poda correta para dar a devida forma de hélice...Examinando centenas delas e as mais bem-sucedidas em suas direções em relação aos ventos...Conjecturando a compostagem das folhas num bio-digestor, prensagem de extrair óleo...seria banho maria cozinhar o óleo em pouco fogo? Energia solar o fogão...



Amadurecendo o projeto, de natureza interdisciplinar em extensas caminhadas à beira mar...Tendo nas amendoeiras as veredas do Rosa...
Ia assim reabrir o blog com esse post, até que lembrei dessa crônica do Drumond...Amendoeiras.
Bom começar por aqui...Na visão do poeta.
Imagens de algumas delas...As de Arraial d'Ajuda.
Por fim,you tube de Matança do Xangai com interpretação memorável de Margareth Menezes.

Fala amendoeira!

Carlos Drummond de Andrade - Fala, amendoeira (1957)

Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza - essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista reparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre o céu e o chão - névoa baixa e seca, hostil aos aviões. Pousou a vista, depois, nas árvores que algum remoto prefeito deu à rua, e que ainda ninguém se lembrou de arrancar, talvez porque haja outras destruições mais urgentes. Estavam todas verdes, menos uma. Uma que, precisamente, lá está plantada em frente à porta, companheira mais chegada de um homem e sua vida, espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino.

Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, alguns fios eléctricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. Às terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe o tronco. Nenhum desses incómodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes.

Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom - cor final de decomposição, depois a qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam o seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador do seu azedinho. E como o cronista lhe perguntasse - fala, amendoeira - por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:

- Não vês? Começo a outonear. É 21 de Março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono.Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.

- E vais outoneando sozinha?

- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.

- Somos todos assim.

- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exactamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.

- Não me entristeças.

- Não, querido, sou tua árvore-da-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonizes com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-te com dignidade, meu velho.»


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2 Comentários:

Às 10/2/12 18:16 , Anonymous Anônimo disse...

Putz...sem palavras.

 
Às 5/5/12 17:02 , Anonymous Sírius disse...

Oi MNC!
faz tempo que vc não posta nada.
Está tudo bem?
Sempre venho por aqui e fico lendo posts passados, comentários. isto aqui era tão movimentado.

 

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