quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Rosa dos Ventos danou-se: Represas viram bombas-hidráulicas


Franco da Rocha em SP, inundada depois que abriram as compotas da represa.

Já dava para antever na leitura dos céus...Esse ia ser um ano de fúria das águas, mas nunca que ia imaginar que seria nessa proporção catastrófica e numa abrangência tão avassaladora logo assim de cara...
Também queriam o que?"Asfaltaram o mundo", parafraseando o GT, tudo impermeabilizado e cada vez mais, caindo água do céu em dias de mundanças climáticas severas....
Cidades inteiras destruídas, Teresópolis, onde o dedo de Deus aponta os céus, Nova Friburgo, lugar mais suiço que já fui...a lama cobriu tudo, gente soterreda desaparecida levada pelas águas. Atibaia e tantas outras em frangalhos,.
Que Deus se compadeça e amanse as águas e dê aos homens força e coragem para cuidar de reconstruir. Contrariando as previsões meteriológicas de que vem mais agueiro por aí...
Abaixo selecionamos 2 pontos de vista:
O primeiro uma cínica justificativa de um sujeito, autoridade chefe da SABESP que minimiza a tragédia anunciada das consquências devastadoras que é abrir compotas de represas.
A segunda, um estudo sério sobre represas, pondo em xeque essa postura negligente e auto-indulgente. ...
Ei-los:

O presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, afirmou que "as represas estão atenuando a ação das chuvas" em Franco da Rocha.
A cidade amanheceu inundada nesta nesta quarta-feira (12). Segundo o vice-prefeito, José Antônio Pariz Júnior, o alagamento foi provocado pela abertura da represa Paiva Castro, que, na manhã de terça-feira (11), atingiu o nível máximo.

Paulo Masato, diretor da Sabesp na região metropolitana, confirma que a abertura das comportas é responsável pela permanência da enchente em Franco da Rocha, mas ressalva que a ação era inevitável, uma vez que a represa estava muito cheia por causa das chuvas que atingiram a região. Caso isso não fosse feito, segundo ele, a barragem seria destruída e o algamento em Franco da Rocha seria ainda pior.

- Já tínhamos avisado a Defesa Civil, e tivemos que tomar essa decisão de abrir mais as comportas. A Defesa Civil estava junto com a Sabesp. O que tem que fazer é acertar a canalização do rio Juqueri.

No período das cheias, as represas retêm boa parte da vazão de água que chega ao rio, liberando esse volume aos poucos, de forma controlada, evitando ou reduzindo o impacto das inundações.

O presidente da empresa anunciou que haverá distribuição de cloro para a população de Franco da Rocha. O produto deverá ser usado na higienização de casas que foram alagadas. Tendas da Sabesp estão sendo montadas na cidade para orientar os moradores.

- Faremos tudo que é necessário para mitigar os efeitos da chuva e colaborar com qualquer ação que as prefeituras venham a precisar.
Segundo a Sabesp, a prefeitura decidirá quando inicia a distribuição, que começará na estação de trem de Franco da Rocha.

Os danos causados pelas barragens tem pairado internacionalmente nas últimas décadas, em parte devido ao fato do aquecimento global estar a causando tempestades cada vez mais intensas, e também porque cada vez mais pessoas vivem e trabalham em planícies aluviais.

As Nações Unidas(ONU) estimam que até 2050, o número de pessoas em risco de desastre de cheias irá aumentar até 2 bilhões. Um fator importante por detrás destes desastres em espiral são as mesmas medidas de controle que supostamente deveriam proteger contra estas calamidades.

As barragens e represas não conseguem ser sempre à prova de falhas, e quando estas falhas acontecem, ocorrem de forma espetacular, e por vezes são catastróficas. É criada uma falsa percepção de segurança que encoraja projectos de desenvolvimento arriscados em planícies aluviais vulneráveis.

Em demasiados casos de controle de cheias através de barragens, os habitantes a jusante são colocados em risco por agências que estão mais interessadas em espremer a maior quantidade possível de energia ou de água para irrigação dos reservatórios, do que manter os níveis de água baixos o suficiente para absorver as águas das cheias.

As limitações das formas de controle convencionais irão se tornar mais evidentes à medida que se realizarem testes às barragens e represas, de forma a testar os seus limites programados, através da indução dos efeitos do aquecimento global.

O autor Jacques Leslie descreve de forma apta as barragens como “armas carregadas apontadas aos rios”. As barragens matam, não só pela negligência e falha dos operadores de barragens em avisar as pessoas a jusante quando as comportas são abertas subitamente, mas também porque estas se desmoronam (em 1975, na China Central, pelo menos 230,000 pessoas morreram devido a uma sequência de falhas de barragens).

Várias barragens de grande porte desmoronaram na Nigéria com consequências mortais, destacam-se a Barragem Bagauda no estado de Kano, em 1988 (250 mil mortoa); a Barragem de Cham no estado de Gombe, em 1991 e, a Barragem de Bagoma no estado de Kaduna, em 1994.

Os planos de controle convencionais de “caminho duro” costumam ignorar os trajectos complexos dos rios e costas. As barragens, represas, o estreitamento e dragagem dos rios desencadeiam mudanças profundas no fluxo da água e sedimentos ao longo das bacias.

Os danos das cheias aumentam quando os engenheiros dos projectos reduzem a capacidade dos canais dos rios, bloqueiam os escoamentos naturais, aumentam a velocidade das inundações, causam subsidência dos deltas e erosão costeira. Adicionando a isto, os planos de controle convencionais de “caminho duro” normalmente diminuem a saúde ecológica dos rios e estuários. Existe uma forma de lidar com estas inundações – o “caminho suave” na gestão de risco de cheias.

A gestão de risco de cheias assume que todas as infra-estruturas anti-cheias podem falhar, e, estas falhas devem ser planeadas. O “caminho suave” também é baseado num entendimento de que alguma inundação é necessária para a saúde dos ecossistemas ribeirinhos.

Em vez de gastar biliões de dólares em vão a tentar erradicar as cheias, nós devemos reconhecer que as cheias irão acontecer, e aprender a viver com este facto da melhor maneira possível.

Isto significa tomar medidas de forma a diminuir a sua rapidez e tamanho dos rios (por exemplo, restaurar os mangais e o serpentear do curso o rio) e duração (melhorando por exemplo a drenagem).

Isto significa proteger os nossos bens mais valiosos, construindo casas em montes ou sobre pilares, defender áreas urbanas com represas planeadas e mantidas de forma cuidadosa. Isto também significa fazer tudo o que for possível para sair do caminho destrutivo das cheias através de um aviso atempado e medidas de evacuação.

Tais prácticas estão em uso em várias partes do mundo. Na China, estão em curso esforços para efetuar a restauração de 20.000 quilómetros quadrados do mangal de Yangtze, de forma a atuar como área de absorção de inundações.

Estão a ser realizados testes com descargas de hídricas artificiais na Nigéria como meio de reavivar os ecossistemas dos mangais a jusante, desde as Barragens do Tiga e de Challawa Gorge. Neste momento, estão a ser propostas alterações na gestão de águas para a Barragem de Cahora Bassa que poderão reduzir o impacto de grandes inundações e restaurar os ecossistemas a jusante.

Nos Estados Unidos, está em curso no rio Napa, na Califórnia,
um projecto de 10 anos, que tem como objectivo reduzir as cheias e restaurar as marés pantanosas, bem como retirar alguns edifícios da zona de inundações e recuar represas de forma a dar mais espaço ao rio para este se estender.

As comunidades que vivem ao longo do rio mais longo de França, o rio Loire, conseguiram persuadir o governo a esboçar um plano de “controlo de inundações” que favorecesse a restauração do rio e com um sistema de prevenção.

Apesar do consenso Mundial crescente de que a única politica realística de controlo de cheias é a mitigação e não a eliminação, persistem ainda facções poderosas devotas a métodos de controlo de cheias “duros” e obsoletos.

Existe um triângulo de políticos, burocratas e construtores de barragens que continua a prometer a salvação através de represas e barragens após ocorrência de cheias (mesmo quando as cheias se tornaram piores – ou foram causadas – por barragens ou represas já existentes).

No lugar de seguir métodos de gestão de inundações que fracassaram em outros pontos do Mundo, África pode aprender através dos erros de outras nações, e adoptar um conjunto de técnicas mais flexíveis, efectivas e sofisticadas, de forma a lidar melhor com as cheias.
McCully é o autor de “Depois do Dilúvio: Lidando com cheias num Clima em Mudança”, que foi publicado pelo International Rivers - Rede Internacional de Rios.

Há dias que toda hora me pego do nada cantando essa música do Chico, na trilha sonora da labuta diária...."Rosa dos Ventos". Sintonia na esteira mental do inconsciente coletivo...é a config da hora Júpiter e Urano em peixes.




E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr

Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão
Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doceA amargura do mar

Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar

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6 Comentários:

Às 12/1/11 20:13 , Blogger mnc disse...

Buenas Blogsfera,
sensação calmaria sinistra na velocidade 5 antes da tempestade tomou conta de mim esses dias...
Que tristeza meu Deus...Sou completamente apaixonada pela região serrana do RJ...vivo sonhando que estou em Terê olhando o Dedo de Deus.
Nova Friburgo, tão suissamente limpa e linda, morei em São Pedro da Serra...tudo virou lama.

Hoje aqui também choveu de com força, mas nem parece, o solo já absorveu toda água...mesmo que alague tudo, não tem galeria pluvial a terra encarrega de fazer o serviço...pouco cimento, nenhum asfalto e muita grama.
O único perrengue são os caramujos africanos...pano p manga de um post só p essa questão.

Agora ouço um prof Lacerda na TV dizendo que deviámos nos preparar para as águas como os países sob risco de terremotos...

Avalanche de lama é mais fatal do que terremoto, debaixo de lama nada sobrevive, enquanto em escombros tem-se mais chances...

 
Às 13/1/11 07:45 , Anonymous Anônimo disse...

Caros amigos,


O governo brasileiro está levando adiante o desastroso Complexo Hidrelétrico de Belo Monte apesar do protesto de especialistas, tribos indígenas e da sociedade civil. Proteja a Amazônia, seus povos e suas espécies -- assine a petição para a Presidente Dilma contra a barragem e pela eficiência energética:



Apesar de graves denúncias socio-ambientais, o governo brasileiro está levando adiante o Complexo Hidroelétrico de Belo Monte, um mega projeto desastroso no coração da Amazônia.

No seu discurso de posse a Presidente Dilma Rousseff prometeu desenvolver o Brasil sem sacrificar o meio ambiente. Porém, Belo Monte é o oposto: a usina iria alagar uma área imensa de floresta, destruir o habitat de dezenas de espécies e expulsar milhares de indígenas e comunidades locais da região. Os únicos beneficiados seriam construtoras, empreiteiras, empresas de energia e mineração – os maiores doadores da campanha da Dilma.

As obras podem começar em semanas. A Dilma ainda está se firmando no seu primeiro mês na presidência e nós temos a oportunidade de cobrar a sua palavra e impedir este desastre. Assine a petição para a Presidente Dilma agora, e divulga para os seus amigos – ela será entregue em Brasília quando conseguirmos 150.000 assinaturas:

https://secure.avaaz.org/po/belo_monte/?vl

No ano passado, sob forte pressão política para iniciar as obras, o IBAMA concedeu uma licença provisória para Belo Monte, causando a demissão de altos funcionários do IBAMA em protesto. Acadêmicos, especialistas, técnicos e líderes locais chamaram a licença de “uma sentença de morte para o Rio Xingu”. A hidroelétrica iria inundar 100.000 hectares da floresta, impactar centenas de quilometros do Rio Xingu e expulsar mais de 40.000 pessoas, incluíndo comunidades indígenas de várias etnias que dependem do Xingu para sua sobrevivência.

O projeto de R$30 bilhões é tão economicamente arriscado que o governo vai usar fundos de pensão e financiamento público para pagar a maior parte do investimento. Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, ela seria a menos produtiva, gerando apenas 10% da sua capacidade no período da seca de julho a outubro.

Os defensores da barragem justificam o projeto dizendo que ele irá suprir as demandas de energia do Brasil. Porém, uma fonte de energia muito maior, mais ecológica e barata está disponível: a eficiência energética. Um estudo do WWF demonstra que somente a eficiência poderia economizar o equivalente a 14 Belo Montes até 2020. Todos se beneficiariam de um planejamento genuinamente verde, ao invés de poucas empresas e empreiteiras. Porém, são as empreiteiras que contratam lobistas e tem força política – a não ser claro, que um número suficiente de nós da sociedade, nos dispormos a erguer nossas vozes e nos mobilizar.

A construção de Belo Monte pode começar ainda em fevereiro.O Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, diz que a próxima licença será aprovada em breve, portanto temos pouco tempo para parar Belo Monte antes que as escavadeiras comecem a trabalhar. Vamos desafiar a Dilma no seu primeiro mês na presidência, com um chamado ensurdecedor para ela fazer a coisa certa: parar Belo Monte, assine agora:

https://secure.avaaz.org/po/belo_monte/?vl

Acreditamos em um Brasil do futuro, que trará progresso nas negociações climáticas e que irá unir países do norte e do sul, se tornando um mediador de bom senso e esperança na política global. Agora, esta esperança será depositada na Presidente Dilma. Vamos desafiá-la a rejeitar Belo Monte e buscar um caminho melhor. Nós a convidamos a honrar esta oportunidade, criando um futuro para todos nos, desde as tribos do Xingu às crianças dos centros urbanos, o qual todos nós podemos ter orgulho.

Com esperança

Ben, Graziela, Alice, Ricken, Rewan e toda a equipe da Avaaz

 
Às 13/1/11 07:48 , Anonymous Anônimo disse...

chorar o leite derramado,de nada resolve.

 
Às 14/1/11 08:26 , Blogger mnc disse...

Caros...
Nem poderia lembrar para traduzir aqui o sentimento em alemão..."Dor do Mundo" aquela dor coletiva da humanidade inteira que dá na gente e deixa assim prostrada...ia além de mim traduzir.
Só é possível filosofar em alemão, disse o filho de D Canô...mas sentir essa dor só os sociapatas não sentiriam.
Hectombe em volta do Dedo de Deus...a paisagem mais frequentes de minhas idas aos "Campos dos Sonhos" ,desde que me entendo por gente, janela chegando ao Rio de janeiro, uau que montanhas...
Lá aprendi a incorporar comtemplando aquele hexagrama do I Ching "Posição de montanha", impassível, diante do abismo que as alturas da Montanha produz.
Água de Morro abaixo e fogo de morro acima...

 
Às 14/1/11 08:41 , Blogger mnc disse...

Meninos e Meninas Ben, Graziela, Alice, Ricken, Rewan e toda a equipe da Avaaz,

Sempre estamos lá endossando os movimentos de mobilização coletiva, que força tem o coletivo!
Temos de acordar o mundo não é mais o mesmo.
Cabeças de água vâo rolar muito mais debaixo dessa ponte incendiada...
Imagina aquele mundaréu de água do Rio sagrado Xingú sendo represada.
O leite derramado...
Abraço solidário!

 
Às 14/1/11 08:52 , Blogger mnc disse...

Coração enlutado.
E revoltado tb...
Não tinham nenhum plano emergencial...Na Austrália, 24 horas antes a população é avisada, evacuada e instruída em como agir onde ir.
Pela dimensão lá conseguiram evitar perdas humanas.
Existem métodos meteriológicos avançados com satélites e ultra-computadores...
O Haití é aqui.

 

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