domingo, 27 de maio de 2012

Ete, vê se te mete!


                                                                                 UFVJM
Disciplina: Tratamento de Efluentes
Docente: Profa. Luciana Biazon
Discente: Mariene Nunes de Campos

RELATÓRIO: Visita técnica à ETE (estação de tratamento de esgoto de Teófilo Otoni).
 No dia 10 de maio de 2012, os alunos na disciplina supracitada, como parte da ementa proposta pela Profa. Luciana Biazon, juntamente com alunos do Prof. Alexandre Faroni e o próprio Professor, estiveram “in loco” na ETE  unidade de Teófilo Otoni.
A finalidade prática da visita: através da experiência direta, aprender e apreender o complexo e trabalhoso sistema do que acontece depois que displicentes apertamos o botão da descarga dos vasos sanitários de nossos lares, ou quando a água de nossas necessidades diárias se  esvai pelo ralo.
Talvez se ficássemos restritos à sala de aula, jamais compreenderíamos a vital relevância para a população que uma ETE representa, bem como a disciplina que trata dessa ciência “TRATAMENTO DE EFLUENTES”.
Previamente, em sala de aula, recebemos várias orientações por parte da Profa. Luciana, dos trajes de segurança, adequações requeridas para poder transitar no interior da ETE.
O caminho feito pelo ônibus percorreu as vias que ladeiam o Rio Todos os Santos, ou o que resta dele, um canal esquisito por onde vão nossos detritos, nossa memória e nossos mitos...Alguns quilômetros  e lá estava ela a ETE...
 Localizada sobre um maciço rochoso (auspicioso pois evita contaminações  do solo por infiltrações, o solo bem “cimentado” pela Mãe Terra) ... Bem abaixo da Vila Santa Clara, onde o Rio Todos os Santos já atravessa toda a cidade, e a cidade vai virando mundo rural, debaixo de um providencial sol escaldante e nenhum vento de começo de tarde, o que potencializou o odor nada agradável dos dejetos de nossa vida diária.
Justificamos o “providencial”, pois o odor faz parte de um cenário ainda mais provocador à reflexão, até mesmo filosófica, como já diz a música: “Tudo vira bosta”, o salmão do barão e o feijão aguado do miserável, aqueles que têm o privilégio de ter ainda que  feijão aguado e banheiro para despejá-lo, em seu casebre, e ainda se esse casebre  está  amparado pelo saneamento básico...Vale lembrar que pela agenda 21 até 2015 o planeta deve estar saneado de redes de esgoto...
Filosofias a parte... Logo na entrada dos portais da ETE, fomos recebidos pela Engenheira Dra. Márcia Nogueira, e o cheiro peculiar de esgoto de longe já fez o estômago revirar da maioria de nós. Quase como num psicodrama a Dra. Márcia foi taxativa, falando num tom “cai na real”: Isso aqui não é para frívolos, daqui para frente o cheiro só vai piorar, quem achar que não aguenta não precisa transpor esses portões ...
 Funcionou como uma anestesia anti-odor fétido, pois a Dra. Com sua estratégia acionou nosso lado cerebral da “psicoadaptação”, pelo ao menos para essa  nossa curiosa pessoa, o cheiro de insuportável passou para “fazer o que, né, vamos cair para dentro”.
A Engenheira nos fez várias recomendações, como o risco de incêndio pelo gás metano, é terminantemente proibido fumar nas cercanias da ETE, sob o risco de tudo ir pelos ares... Pela  probabilidade de contaminação das paredes, corrimãos e afins: que não nos encostássemos  e tocasse nenhum deles.
 No projeto do ETE pretende-se um dia aproveitar o Metano gerado pelos dejetos em decomposição, instalando equipamentos para canalizá-lo para gerar biogás e assim tornar a ETE autossustentável no consumo de energia geradora das bombas e afins.
Com muita propriedade e conhecimento de causa, a Dra. Márcia foi nos conduzindo ETE adentro e acima, passos vigorosos... Até aos tanques do  primeiro estágio de chegada dos efluentes...
Gigantescos tanques, aonde um a um são bombeados os dejetos recém- chegados “in natura”, para tratamento físico preliminar em que o sobrenadante mais grosso é contido, esse tanque é o mais fétido de todos, e ficamos perplexos quando a Dra.  nos disse ser comum encontrarem cadáveres de  fetos humanos, transformados em sobrenadantes no primeiro tanque de esgoto.
Expôs-nos que  o funcionamento da ETE  ainda  estaria em ajustes, quando o cultivo dos microrganismos estiverem na fase ideal para degradarem a MO (matéria orgânica) advinda dos efluentes in natura, todo o processo de tratamento estaria por fim concluído.
Falou-nos ainda a respeito dos tipos de tratamento de esgoto, primário, secundário e terciário. Assim como também, o sistema pelo qual está sendo coletado os efluentes ao longo do Rio Todo os Santos, seriam o primário e secundário, das 3 linhas de receptores e elevatórios que por gravidade garantem o fluxo do Rio, fazendo com que ele chegue até a ETE sem custos de energia com bombeamento, um no Parque de Obras da Prefeitura Municipal, a segunda na turma 37 e o terceiro próximo á ETE.
 Questionada por nossa pessoa, se na ETE  fazia-se  o tratamento terciário de PATÒGENOS, respondeu-nos, o que na verdade é uma orientação da OMS,  seria o ideal, devolver ao Rio a água tratada também de agentes patogênicos, causadores de males  infecto-contagiosos, como hepatite,tifo, diarreia infantil,  enfim, mortais e danosos, que não entram no cardápio dos MO cultivados ali...nem ficam retidos nos tanques de decantação, carecia um sistema de filtros ultra finos pelicolosos  especiais e caríssimos ou algum processo de ionização, quem sabe, para tal.
O tratamento efetuado na ETE TO seria físico e biológico, o que já seria uma avanço, que deixava para nossa geração de engenheiros o encargo de desenvolver um sistema de tratamento de agua também para os patógenos, metais pesados, etc...E que 60% das aguas residuais de TO estão sendo tratadas. Os coliformes termetolerantes sobrenadantes  são tratados com cal na segunda etapa..um meio alcalino que o pH dos fecais coliformes são neutralizados posteriormente...
No segunda etapa de tratamento de águas residuadas da ETE TO, nos deparamos com tanques germinados,  para floculados mais finos, com brita no fundo, um outro com cal para desinfecção  dos sedimentos  que se acumulam no fundo dos mesmos e são decantados.
Uma enorme esteira feita de pneus reciclados,  capta resíduos advindos da agua como pedaços de absorventes higiênicos, papeis, etc e os deposita num grande latão de lixo...já em menor quantidade que na primeira fase, assim como o cheiro também mais ameno. Resta saber se pelo tratamento do resíduo na segunda etapa ou se pela “psico-adptação”.
Na terceira fase os tanques de aeração com enormes paletas helicoidais  girando o tempo todo, para por movimento repor o OD (oxigênio dissolvido) da água residuada. (incrível como a atmosfera repõe a Oxigênio dissolivido na água, uma interatividade, a atmosfera só dá precisa, quando satura, o nível de  O2 fica no grau, automaticamente cessa de transferir O2)
Dai passamos a observar o sistema ~pass-by~ por onde as águas residuadas estão sendo conduzidas ao longo das tubulações, dai o nome, passar por( traduzido), conduzindo aos tanques e assim continuamente.  
Observamos no quarto estágio de tratamento muita espuma que volta e meia tem de ser removida por enormes rodos puxados a tração humana, operários da ETE... O tanque para cultivo de micro organismos biodigestores em 60 a 90 dias começa a funcionar, tempo de maturação da Colônia. Elas também gostam de degradar, ou fagocitar (comer) detergente pelo Nitrogênio...
No intermeio, dados importantes, cada 100 litros de agua tratada que chegam aos lares, 80% volta ao meio ambiente em forma de dejetos. Do quanto seria importante conscientizar a população a respeito dos esgotos clandestinos, das ligações de aguas pluviais a rede de esgoto.
O teste de DBO (Demanda bioquímica de Oxigênio) sempre feito  a ponto  jusante do Rio, entrando ne ETE, e outro segundo a pós-jusante do referido nosso Rio Todos os Santos, assim o monitoramento da qualidade da agua seria feito e que sempre esses testes apontam índice muito acima do recomendado, Não tivemos acesso ao laboratório que faz a DBO, nem tampouco acesso às análises técnicas das mesmas, pela cara da Doutora, no olhômetro...A estimativa sugere que vai demorar ainda para atingir uma melhora efetiva...O Rio Tamisa de Londres levou 50 anos para voltar a perenidade.
Perguntada ainda por nossa pessoa das condições insalubres dos trabalhadores se havia uma adicional do salario, e quais medidas preventivas eram tomadas em relação ao controle de doenças infesto contagiosas advindas da lida com efluentes, retrucou que para tal todos os trabalhadores da ETE são vacinados contra uma série de doenças como Hepatite, febre tifoide, tétano, para prevenir contaminações. E que sim recebem adicional de insalubridade.
O efluente depois de tratado retorna ao Rio Todos os Santos, 88% tratado, os outros 12% restantes o próprio Rio depura. Alertou, no entanto que a água  do Rio não esta adequada para agricultura...Resta saber se os plantadores de hortaliças do Poton sabem disto...
- ”Aliados ao tratamento poder-se-ia também fazer uma campanha de para conscientizar a população do quanto ela poderia contribuir para acelerar o processo de revitalização do manancial do Todos os Santos, com hábitos simples incorporados a rotina do lar, como nunca despejar gorduras (Lipídeos) os mais trabalhosos de tratar, caixa de gordura bem feita... Sensibilizar a despeito de que quanto menos água se gasta e menos resíduos passam ralo afora, estaremos contribuindo para a cura de nosso  Rio. Depende muito dessa colaboração, o tempo que se levará para perenizar o Todos Os Santos”.
Concluímos nossa visita, cheios de auto indagações reflexivas, o nosso sistema de tratamentos de esgoto esta muito longe de ser o ideal, o Rio cartão postal da cidade outrora, em sua área urbana continua a receber esgoto in natura, para mesmo depois de tratado não poder ser aproveitada sua água nem para agricultura, seguramente a atividade humana que mais a gasta. Como fica a potabilidade dos tempos em que sua águas eram cristalinas, encontro de córregos e riozinhos descidos do olhos d água  das Montanhas que nos rodeiam...Todos com nome de Santo, Antônio, Benedito, Pedro, José, Jacinto...Um riquíssimo manancial um a um reduzido a esgoto...
 Ainda não poderemos voltar a tomar banho de Rio no quente e frio (encontro do Rio Santo Antonio e Todos os Santos, diferentes temperaturas onde as aguas se misturam), quem sabe um dia...
Quando a idéia dos sanitaristas europeus no sec 18 de se despejar em corpos d’água os  dejetos humanos, nosso planeta ainda era muito pouco densamente habitado, o volume de esgoto era depurado pelos corpos d água (rios) que têm essa capacidade...
Podemos seguramente argumentar que esse sistema de despejar os dejetos nos corpos d’água nos dias de hoje, num planeta de 7 bilhões que somos, torna-se inviável, obsoleto...Um desafio urge, desenvolver novas tecnológicas que poupem nossas águas de receberem esgotos, e ponto!....Talvez incinerá-los, por um processo de incineração em câmera fechada, sem fazer muito co2...(Estamos pensando algumas possíveis alternativas, dentro do conceito berço ao berço do Macdonought)
 Com a eminente escassez, a palavra de ordem é economizar água, render graças se em sua região essa água se encontra disponível e potável.
Preservar e reabilitar o já degradados rios, que podem servir para suprir a carência de água, ao invés de ser transformar nossos cursos d’água  em canal de emissário de merdas humanas.
Reconhecemos que  deixar de jogar no Rio Mucuri os dejetos dos Todos os Santos pode ser um bom começo. Ampliar a rede de esgoto na área urbana, melhora a qualidade de vida da população, que morre mais de esquistossomose, aqui endêmica, do que de AIDS.Como diz o agente da SUCAM quando colhe casa em casa nossas fezes para exame: Dona, “xistose”  aleja, endoida e mata, para nos convencer da importância de ceder aos laboratórios para avaliação amostras  fecais nas latinhas...
  Que “inveja branca” do sistema de tratamento de efluentes do Rio Hudsom em NY. Mas que também já se preocupa com alto índice de antibióticos residuais da urina humana, causando a resistência aos antibióticos e desenvolvendo as super-bactérias... Ou mesmo dos Jardins filtrantes de Paris...
Reforça nosso argumento, do quanto é insano, incipiente além de muito caro, o  sistema vigente, de despejar nossos dejetos no Rio, para depois a custa de altas taxas pagas pela população fazer tratamento “meia boca” que vai devolver ao Rio uma água com qualidade nem para molhar plantas...Tudo cantado e decantado em verso e prosa,  a solução de nossos problemas com  a destinação de nossos inevitáveis detritos.
Lêdo engano, Propaganda enganosa, funciona, mas só como paliativo, e o custo é muito alto, a morte de um Rio.
Como contra argumentação, alguns podem evocar: águas de reuso,  tratadas na ETE em SP, estão sendo revendidas  às  indústrias, como de linhas para tinturas em caldeiras ferventes, onde produtos químicos sabe-se lá com que taxa de toxidade são acrescentados. E sabe-se lá como são tratados estes produtos químicos dos tingimentos...
Não dispomos de indústrias, a economia está centrada na agricultura e pecuária, água residuada aqui não se teria demanda...
Apesar de não termos dados sobre o índice de metais pesados, temos ainda um Rio pelo ao menos livre deles, exatamente pela fraca atividade industrial de nosso Município...Ainda bem!