Ete, vê se te mete!
UFVJM
Disciplina:
Tratamento de Efluentes
Docente:
Profa. Luciana Biazon
Discente:
Mariene Nunes de Campos
RELATÓRIO:
Visita técnica à ETE (estação de tratamento de esgoto de Teófilo Otoni).
No dia 10 de maio de
2012, os alunos na disciplina supracitada, como parte da ementa proposta pela
Profa. Luciana Biazon, juntamente com alunos do Prof. Alexandre Faroni e o
próprio Professor, estiveram “in loco” na ETE
unidade de Teófilo Otoni.
A finalidade prática da visita: através da experiência
direta, aprender e apreender o complexo e trabalhoso sistema do que acontece
depois que displicentes apertamos o botão da descarga dos vasos sanitários de
nossos lares, ou quando a água de nossas necessidades diárias se esvai pelo ralo.
Talvez se ficássemos restritos à sala de aula, jamais
compreenderíamos a vital relevância para a população que uma ETE representa,
bem como a disciplina que trata dessa ciência “TRATAMENTO DE EFLUENTES”.
Previamente, em sala de aula, recebemos várias orientações
por parte da Profa. Luciana, dos trajes de segurança, adequações requeridas
para poder transitar no interior da ETE.
O caminho feito pelo ônibus percorreu as vias que ladeiam o
Rio Todos os Santos, ou o que resta dele, um canal esquisito por onde vão
nossos detritos, nossa memória e nossos mitos...Alguns quilômetros e lá estava ela a ETE...
Localizada sobre um
maciço rochoso (auspicioso pois evita contaminações do solo por infiltrações, o solo bem
“cimentado” pela Mãe Terra) ... Bem abaixo da Vila Santa Clara, onde o Rio
Todos os Santos já atravessa toda a cidade, e a cidade vai virando mundo rural,
debaixo de um providencial sol escaldante e nenhum vento de começo de tarde, o
que potencializou o odor nada agradável dos dejetos de nossa vida diária.
Justificamos o “providencial”, pois o odor faz parte de um
cenário ainda mais provocador à reflexão, até mesmo filosófica, como já diz a
música: “Tudo vira bosta”, o salmão do barão e o feijão aguado do miserável, aqueles
que têm o privilégio de ter ainda que feijão aguado e banheiro para despejá-lo, em
seu casebre, e ainda se esse casebre
está amparado pelo saneamento
básico...Vale lembrar que pela agenda 21 até 2015 o planeta deve estar saneado
de redes de esgoto...
Filosofias a parte... Logo na entrada dos portais da ETE,
fomos recebidos pela Engenheira Dra. Márcia Nogueira, e o cheiro peculiar de
esgoto de longe já fez o estômago revirar da maioria de nós. Quase como num
psicodrama a Dra. Márcia foi taxativa, falando num tom “cai na real”: Isso aqui
não é para frívolos, daqui para frente o cheiro só vai piorar, quem achar que
não aguenta não precisa transpor esses portões ...
Funcionou como uma
anestesia anti-odor fétido, pois a Dra. Com sua estratégia acionou nosso lado
cerebral da “psicoadaptação”, pelo ao menos para essa nossa curiosa pessoa, o cheiro de insuportável
passou para “fazer o que, né, vamos cair para dentro”.
A Engenheira nos fez várias recomendações, como o risco de
incêndio pelo gás metano, é terminantemente proibido fumar nas cercanias da
ETE, sob o risco de tudo ir pelos ares... Pela probabilidade de contaminação das paredes, corrimãos
e afins: que não nos encostássemos e
tocasse nenhum deles.
No projeto do ETE
pretende-se um dia aproveitar o Metano gerado pelos dejetos em decomposição,
instalando equipamentos para canalizá-lo para gerar biogás e assim tornar a ETE
autossustentável no consumo de energia geradora das bombas e afins.
Com muita propriedade e conhecimento de causa, a Dra. Márcia
foi nos conduzindo ETE adentro e acima, passos vigorosos... Até aos tanques do primeiro estágio de chegada dos efluentes...
Gigantescos tanques, aonde um a um são bombeados os dejetos
recém- chegados “in natura”, para tratamento físico preliminar em que o sobrenadante
mais grosso é contido, esse tanque é o mais fétido de todos, e ficamos
perplexos quando a Dra. nos disse ser
comum encontrarem cadáveres de fetos
humanos, transformados em sobrenadantes no primeiro tanque de esgoto.
Expôs-nos que o
funcionamento da ETE ainda estaria em
ajustes, quando o cultivo dos microrganismos estiverem na fase ideal para
degradarem a MO (matéria orgânica) advinda dos efluentes in natura, todo o
processo de tratamento estaria por fim concluído.
Falou-nos ainda a respeito dos tipos de tratamento de esgoto,
primário, secundário e terciário. Assim como também, o sistema pelo qual está
sendo coletado os efluentes ao longo do Rio Todo os Santos, seriam o primário e
secundário, das 3 linhas de receptores e elevatórios que por gravidade garantem
o fluxo do Rio, fazendo com que ele chegue até a ETE sem custos de energia com
bombeamento, um no Parque de Obras da Prefeitura Municipal, a segunda na turma
37 e o terceiro próximo á ETE.
Questionada por nossa
pessoa, se na ETE fazia-se o tratamento terciário de PATÒGENOS,
respondeu-nos, o que na verdade é uma orientação da OMS, seria o ideal, devolver ao Rio a água tratada
também de agentes patogênicos, causadores de males infecto-contagiosos, como hepatite,tifo, diarreia
infantil, enfim, mortais e danosos, que
não entram no cardápio dos MO cultivados ali...nem ficam retidos nos tanques de
decantação, carecia um sistema de filtros ultra finos pelicolosos especiais e caríssimos ou algum processo de
ionização, quem sabe, para tal.
O tratamento efetuado na ETE TO seria físico e biológico, o
que já seria uma avanço, que deixava para nossa geração de engenheiros o
encargo de desenvolver um sistema de tratamento de agua também para os
patógenos, metais pesados, etc...E que 60% das aguas residuais de TO estão
sendo tratadas. Os coliformes termetolerantes sobrenadantes são tratados com cal na segunda etapa..um
meio alcalino que o pH dos fecais coliformes são neutralizados
posteriormente...
No segunda etapa de tratamento de águas residuadas da ETE TO,
nos deparamos com tanques germinados, para floculados mais finos, com brita no
fundo, um outro com cal para desinfecção dos sedimentos que se acumulam no fundo dos mesmos e são
decantados.
Uma enorme esteira feita de pneus reciclados, capta resíduos advindos da agua como pedaços
de absorventes higiênicos, papeis, etc e os deposita num grande latão de lixo...já
em menor quantidade que na primeira fase, assim como o cheiro também mais
ameno. Resta saber se pelo tratamento do resíduo na segunda etapa ou se pela
“psico-adptação”.
Na terceira fase os tanques de aeração com enormes paletas
helicoidais girando o tempo todo, para
por movimento repor o OD (oxigênio dissolvido) da água residuada. (incrível como
a atmosfera repõe a Oxigênio dissolivido na água, uma interatividade, a
atmosfera só dá precisa, quando satura, o nível de O2 fica no grau, automaticamente cessa de
transferir O2)
Dai passamos a observar o sistema ~pass-by~ por onde as águas
residuadas estão sendo conduzidas ao longo das tubulações, dai o nome, passar
por( traduzido), conduzindo aos tanques e assim continuamente.
Observamos no quarto estágio de tratamento muita espuma que
volta e meia tem de ser removida por enormes rodos puxados a tração humana,
operários da ETE... O tanque para cultivo de micro organismos biodigestores em
60 a 90 dias começa a funcionar, tempo de maturação da Colônia. Elas também
gostam de degradar, ou fagocitar (comer) detergente pelo Nitrogênio...
No intermeio, dados importantes, cada 100 litros de agua
tratada que chegam aos lares, 80% volta ao meio ambiente em forma de dejetos. Do
quanto seria importante conscientizar a população a respeito dos esgotos
clandestinos, das ligações de aguas pluviais a rede de esgoto.
O teste de DBO (Demanda bioquímica de Oxigênio) sempre feito a ponto jusante do Rio, entrando ne ETE, e outro segundo a pós-jusante
do referido nosso Rio Todos os Santos, assim o monitoramento da qualidade da
agua seria feito e que sempre esses testes apontam índice muito acima do
recomendado, Não tivemos acesso ao laboratório que faz a DBO, nem tampouco
acesso às análises técnicas das mesmas, pela cara da Doutora, no olhômetro...A
estimativa sugere que vai demorar ainda para atingir uma melhora efetiva...O
Rio Tamisa de Londres levou 50 anos para voltar a perenidade.
Perguntada ainda por nossa pessoa das condições insalubres
dos trabalhadores se havia uma adicional do salario, e quais medidas
preventivas eram tomadas em relação ao controle de doenças infesto contagiosas
advindas da lida com efluentes, retrucou que para tal todos os trabalhadores da
ETE são vacinados contra uma série de doenças como Hepatite, febre tifoide,
tétano, para prevenir contaminações. E que sim recebem adicional de insalubridade.
O efluente depois de tratado retorna ao Rio Todos os Santos,
88% tratado, os outros 12% restantes o próprio Rio depura. Alertou, no entanto
que a água do Rio não esta adequada para
agricultura...Resta saber se os plantadores de hortaliças do Poton sabem
disto...
- ”Aliados ao tratamento poder-se-ia também fazer uma
campanha de para conscientizar a população do quanto ela poderia contribuir
para acelerar o processo de revitalização do manancial do Todos os Santos, com
hábitos simples incorporados a rotina do lar, como nunca despejar gorduras
(Lipídeos) os mais trabalhosos de tratar, caixa de gordura bem feita...
Sensibilizar a despeito de que quanto menos água se gasta e menos resíduos
passam ralo afora, estaremos contribuindo para a cura de nosso Rio. Depende muito dessa colaboração, o tempo
que se levará para perenizar o Todos Os Santos”.
Concluímos nossa visita, cheios de auto indagações
reflexivas, o nosso sistema de tratamentos de esgoto esta muito longe de ser o
ideal, o Rio cartão postal da cidade outrora, em sua área urbana continua a
receber esgoto in natura, para mesmo depois de tratado não poder ser aproveitada
sua água nem para agricultura, seguramente a atividade humana que mais a gasta.
Como fica a potabilidade dos tempos em que sua águas eram cristalinas, encontro
de córregos e riozinhos descidos do olhos d água das Montanhas que nos rodeiam...Todos com nome
de Santo, Antônio, Benedito, Pedro, José, Jacinto...Um riquíssimo manancial um
a um reduzido a esgoto...
Ainda não poderemos
voltar a tomar banho de Rio no quente e frio (encontro do Rio Santo Antonio e
Todos os Santos, diferentes temperaturas onde as aguas se misturam), quem sabe
um dia...
Quando a idéia dos sanitaristas europeus no sec 18 de se
despejar em corpos d’água os dejetos
humanos, nosso planeta ainda era muito pouco densamente habitado, o volume de
esgoto era depurado pelos corpos d água (rios) que têm essa capacidade...
Podemos seguramente argumentar que esse sistema de despejar
os dejetos nos corpos d’água nos dias de hoje, num planeta de 7 bilhões que
somos, torna-se inviável, obsoleto...Um desafio urge, desenvolver novas
tecnológicas que poupem nossas águas de receberem esgotos, e ponto!....Talvez
incinerá-los, por um processo de incineração em câmera fechada, sem fazer muito
co2...(Estamos pensando algumas possíveis alternativas, dentro do conceito
berço ao berço do Macdonought)
Com a eminente
escassez, a palavra de ordem é economizar água, render graças se em sua região
essa água se encontra disponível e potável.
Preservar e reabilitar o já degradados rios, que podem servir
para suprir a carência de água, ao invés de ser transformar nossos cursos
d’água em canal de emissário de merdas
humanas.
Reconhecemos que
deixar de jogar no Rio Mucuri os dejetos dos Todos os Santos pode ser um
bom começo. Ampliar a rede de esgoto na área urbana, melhora a qualidade de
vida da população, que morre mais de esquistossomose, aqui endêmica, do que de
AIDS.Como diz o agente da SUCAM quando colhe casa em casa nossas fezes para
exame: Dona, “xistose” aleja, endoida e
mata, para nos convencer da importância de ceder aos laboratórios para
avaliação amostras fecais nas
latinhas...
Que “inveja branca” do sistema de tratamento
de efluentes do Rio Hudsom em NY. Mas que também já se preocupa com alto índice
de antibióticos residuais da urina humana, causando a resistência aos
antibióticos e desenvolvendo as super-bactérias... Ou mesmo dos Jardins
filtrantes de Paris...
Reforça nosso argumento, do quanto é insano, incipiente além
de muito caro, o sistema vigente, de
despejar nossos dejetos no Rio, para depois a custa de altas taxas pagas pela
população fazer tratamento “meia boca” que vai devolver ao Rio uma água com
qualidade nem para molhar plantas...Tudo cantado e decantado em verso e prosa, a solução de nossos problemas com a destinação de nossos inevitáveis detritos.
Lêdo engano, Propaganda enganosa, funciona, mas só como
paliativo, e o custo é muito alto, a morte de um Rio.
Como contra argumentação, alguns podem evocar: águas de
reuso, tratadas na ETE em SP, estão
sendo revendidas às indústrias, como de linhas para tinturas em
caldeiras ferventes, onde produtos químicos sabe-se lá com que taxa de toxidade
são acrescentados. E sabe-se lá como são tratados estes produtos químicos dos
tingimentos...
Não dispomos de indústrias, a economia está centrada na
agricultura e pecuária, água residuada aqui não se teria demanda...
Apesar de não termos dados sobre o índice de metais pesados,
temos ainda um Rio pelo ao menos livre deles, exatamente pela fraca atividade
industrial de nosso Município...Ainda bem!